Como eu imaginava, não foi fácil.
Exemplo disso é todo esse tempo que passei sem atualizar o blog.
São sete meses sem escrever. Sete
meses de adaptação a uma nova rotina. Sete meses em que aos poucos fui me reencontrando,
mas também conhecendo outra parte de mim - mais segura, mais forte, mais
madura.
Se antes eu podia simplesmente
acordar, tomar meu banho e pensar em uma roupa pra sair, agora é bem diferente.
Tudo, em absoluto, é bem planejado.
A primeira coisa que pensei
quando recebi uma proposta de trabalho foi: não vou dar conta!
Passar o dia longe da minha filha
me fez imaginar um turbilhão de coisas negativas - desde a saudade que nós
teríamos uma da outra a possibilidade dela se machucar, engasgar, adoecer sem
que eu estivesse perto.
Eu não conseguiria lidar com tudo
isso, não me concentraria nas minhas obrigações e não estaria sendo justa com a
pessoa que me confiou um ofício.
Mas eu também estaria fazendo uma
espécie de auto sabotagem, desistindo sem nem mesmo tentar. Quem disse que
seria assim? E porque não pensar de forma positiva?
Foi então que comecei a enxergar
as coisas por outro prisma.
Um dia a Maysa teria que ir pra
escola, isso inevitavelmente nos separaria. E ela, como toda criança, também se
acostumaria.
E eu precisava me sentir útil,
fazer outra coisa que não me reduzisse à mãe e dona de casa, porque foi
exatamente isso que eu fui durante um ano.
Eu vivi dia após dia a
maternidade em tempo real. Eu conheci de perto a solidão materna. Eu aprendi a
ceder, a deixar pra depois as minhas próprias vontades. Eu me vi abrindo mão de
coisas que gostava. Me vi ter saudade dessas coisas e ter que aceitar que
naquele momento elas não cabiam. Mas eu também entendi que tudo é MOMENTO, e
aquela máxima é verdade: tudo passa!
E esse era o meu momento, chegara
a hora de fazer uma transição. Eu tinha uma oportunidade e não poderia deixar
passar!
Minha filha não dependia mais de
aleitamento materno, embora ainda mame (bastante) como complemento (orientação
pediátrica até os 02 anos). Ela já anda, já fala. E eu estaria ali, num piscar
de olhos, a qualquer ligação, batsinal ou código morse.
Então, sim. Eu retornaria ao
trabalho!
Isso foi tão importante pra mim meu
corpo reagiu a minha felicidade: minhas roupas voltaram a servir. Eu poderia me
arrumar todos os dias. Deixei de lado os vestidos largos e as roupas de casa. Voltei
a usar meus pincéis e batons prediletos. Eu podia usar um salto. Meu rosto agora tinha
um ar saudável.
Maysa começou a ficando
alternadamente entre a casa da minha avó e a casa da minha sogra,
respectivamente as pessoas que se dispuseram a ajudar. Depois entendemos que
isso não daria certo: na casa de um e de outro ela não teria uma rotina,
essencial para crianças nessa fase. Então optamos por deixa-la direto na casa
da bisa, já que lá eu teria uma pessoa disponível pra cuidar dela, minha prima,
a quem ela carinhosamente começou a chamar de mãe.
Isso não tem preço, né? Quando
ela chama minha prima de mãe ela diz que é tão bem cuidada e atendida por ela
quanto eu faria.
Conviver com outras pessoas fez
com que ela desse um salto no desenvolvimento: Maysa fala tudo! Ela forma
frases. Ela relaciona as coisas, as pessoas. Ela sabe quem é marido ou filho de
alguém. Ela entende os desenhos que assiste. Se você perguntar, ela vai responder
o que está passando. Ela aprendeu a conferir. Você diz um, ela fala dois, eu
falo três, ela diz quatro. Ela já reconhece algumas cores e aprendeu dizer em
inglês também. Ela diz o que que quer comer: “ comidinha”, “gagau”, “pão”. Avisa
quando está com sede ou quando fez cocô. Diz até quando quer tomar banho:
banhar! Banhar! Me chama de mamãe, Dadáia e agora, de Danda (porque vê outras
pessoas chamarem).
E pra completar, olhou pro pai
dela, que colocava um óculos escuro pra sair de casa, e disse: Gatão!
Eu acho que se ela estivesse na
escola já estaria fazendo cálculos. kkkkkk
Chegamos até cogitar por na
escola ou na creche, mas pra quê? Ela é tão pequenina ainda, não há necessidade
de adiantar as coisas. Resolvemos que ela irá pra escola ao completar dois
anos. Quer dizer, dois e meio, porque como ela nasceu em agosto, acaba que
entra na escola só no início do ano que vem.
Então a nossa rotina funciona
meio que assim: começamos o dia pela noite. Isso mesmo.
Ao chegar em casa, à noite, eu já
tiro todas as coisas que voltaram sujas, coloco no cesto e faço a mochila do
dia seguinte: fraldas, cueiros, pomada
anti assadura, três mudas de roupas, sandália, lacinhos, lanche e remédios,
quando necessário. Deixo tudo adiantado pro dia seguinte. Já sei até que roupa
vou usar pra sair.
Essa saída, pela manhã, me causou
muito estresse no começo. Acordar cedo se transformou em um problema que eu
nunca tive: o cansaço de passar o dia fora e ainda encarar um terceiro round em
casa estava me consumindo.
Mas é como academia, no início
fica tudo dolorido, mas depois estamos cheios de disposição.
Levanto cedo, deixo o marido
dormindo no quarto com Maysa e vou fazer o café. Então tomo banho, volto pra
comer e subo. Enquanto me arrumo, é a vez dele tomar banho, café e etc.
Mas nem sempre é um sistema assim
rápido e bonitinho. Nos dias em que Maysa continua dormindo depois que
acordamos é ótimo, fazemos tudo com tranquilidade. Mas e quando ela acorda
assim que preciso fazer o café? Nessa hora ela quer peito e a negativa disso é
um escândalo, daqueles.
Dar o mamar pra ela me atrasa. Às
vezes eu dou por 5 minutos só pra acalmá-la e depois colocamos em um desenho,
pra que ela se distraia. Nessa hora o papai também já acordou e está tentando
fazer com ela fique com ele pra eu adiantar as coisas.
Às vezes funciona, outras não. Há
dias em que ela fica entretida com um desenho, outros que precisa ir comigo
fazer o café. Isso me demanda tempo. Ela pede colo, gruda nas minhas pernas,
não me deixa andar. E eu, preocupada em chegar atrasada, vou me estressando e
tentando recuperar o fôlego. No fim dá tudo certo, mas não sem antes enfrentar
um perrengue.
Eu nem olho o celular de manhã
cedo, só mexo no meu aparelho depois que estou no carro, e olhe lá. Esse tipo
de coisa, por mais que possa ter algo importante, acaba também sendo mais um
“tira tempo”.
Mas passando essas coisas,
chegamos ao trabalho, os dois. Passamos o dia fora. Ao chegar em casa,
cansados, ainda vamos ver o que comer. Enquanto providencio o lanche, ele fica
com ela. Depois tem as louças, o quarto que ficou bagunçado ao sair, a mochila
do dia seguinte e o preparo pro sono, que envolve mais uma troca de fraldas,
esconde-esconde, brincar de comidinha, ver alguns desenhos, dar muito carinho,
mamar e enfim, dormir.
Parece simples, né? Mas não é um
cálculo exato. Pra gente chegar nisso há muitas e muitas variantes.
À volta ao trabalho não foi
fácil, mas sem sombra de dúvidas, um divisor de águas - Eu me reconectei à vida
e encontrei outra, mais linda ainda.