Por volta dos meus vinte anos, tive o diagnóstico de "depressão".
Foi um período absolutamente difícil pra mim - larguei a faculdade, pedi as contas do emprego e terminei um namoro de dois anos e meio.
Nada fazia sentido porque eu não tinha vontade de nada. A única coisa que eu queria era ficar em casa, trancada no quarto e enrolada em uma coberta quentinha.
Eu sentia muito frio, mesmo num calor insuportável. Janelas e portas fechadas e eu continuava coberta dos pés a cabeça.
Tinha medo de alguma coisa que não sabia dizer. Eu não era triste, como algumas pessoas definem os estágios da depressão, eu simplesmente não relaxava.
Minha mente, acelerada, processava as informações mais rápido do que elas podiam acontecer. Os pensamentos lá na frente, eu sempre vivendo no futuro. E era isso, descobri, que me assustava.
Nosso futuro é incerto. E essa incerteza assombrava meu coração. A maioria das pessoas convive com isso numa boa, eu não. Sempre quero ter a certeza de que está tudo bem. Mas isso, só Deus tem.
Fiz tratamento psicológico e medicamentoso.
Meu médico, a época, disse que "depressão não tem cura, mas você pode ter um caso isolado ou várias crises ao longo da vida. Umas mais espaçadas, outras a cada mês. Isso depende dos desdobramentos do que você vive e de como encara esses fatos."
Aquilo me tranquilizou. Podia ser a primeira e a única vez, podia nunca mais acontecer.
Fato é que fiz o tratamento e consegui voltar a minha rotina - retornei para faculdade (e me formei) , comecei um novo namoro (que viera a durar por 06 anos) e passei por vários estágios dentro da minha area, até conseguir um emprego formal.
Passaram-se quase 10 anos pra que eu tivesse a primeira recaída.
Vale dizer que o tratamento durou dois anos. Após isso vivi tranquilamente, sem remédios e terapia.
Mas, há exatos dois anos atrás, comecei a sentir os mesmos sintomas. Eu sabia o que se aproximava e não queria aquilo de novo - eu tinha um bom emprego, uma casa própria, um namorado e eu não jogaria tudo pela janela outra vez.
Busquei ajuda imediatamente. Eu já sabia qual caminho seguir.
Voltei aos remédios e a terapia. Melhorei.
Já tinha um ano de tratamento quando resolvi, por contra própria parar.
As pessoas me diziam: "tão nova dependente de medicamentos."
"Menina, para de tomar isso que o médico ta é ganhando em cima de ti, eles vivem de prescrever esses remédios".
Já sem sentir mais nada e acreditando no que essas pessoas diziam, deixei tudo de lado e fui viver sem dependência.
Passaram-se alguns meses até que eu tivesse outra crise, e, dessa vez, em maior grau: desenvolvi transtorno de ansiedade e síndrome do pânico.
Transtorno de ansiedade não é ficar ansioso por alguém que vai chegar e comer uma caixa de chocolate. Não é saber que seu time vai jogar amanhã e só pensar nisso.
Transtorno de ansiedade é sentir dores no peito, taquicardia, ter a pressão mais baixa ou alta em segundos, tontura. O que te leva a síndrome do pânico porque você tem tanto medo de sentir tudo isso que já fica pensando em quando vai ser a próxima crise: será que vou está na rua? No bar? Sozinha? Será que vou ter que ir pro hospital? Vai ser rápida ou passar logo? Vai ter alguém pra me abraçar e dizer que vai ficar tudo bem?
Informei ao meu obstetra que desde que descobri que estava grávida havia parado o tratamento. Ele pediu que eu retornasse ao meu médico informando da gestação. E assim eu fiz.
Então que ele realmente suspendeu o medicamento anterior, mas prescreveu um outro, que posso tomar sem prejuízo ao bebê.
Voltei ao obstetra com essa informação e perguntei se poderia dar continuidade ao tratamento, ao que ele respondeu: DEVE!
Não comprei os remédios. Mesmo com tudo autorização dos meus médicos tive medo de prejudicar o meu filho.
Mas hoje tenho consciência de que preciso do tratamento principalmente nesse período. Todos os hormônios alterados, as limitações, a carência que é dobrada. Enfim.
Retornei também a terapia. E agora vou partir pros remédios.
Nunca sei dizer se todo esse mal estar que sinto é da depressão ou da gravidez.
O que sei é que ao me ajudar estarei também ajudando o meu filho. Ele precisa da minha calma, da minha serenidade. E, sozinha, confesso, não consigo.
Muita gente tem a sorte de não passar por isso. Muita gente compreende o que é isso. E muitas outras acham que isso é bobagem.
Diga pra uma pessoa com câncer que o tratamento é uma bobagem e aguarde uma resposta. É a mesma que eu tenho pra você.
Muitas mulheres desenvolvem depressão durante a gravidez, outras no pós parto. Eu já tenho esse histórico.
Durante uma gestação todo nosso corpo mundo. Nosso organismo funciona de modo diferente. E tudo isso aflora as nossas emoções. Tudo é sentido com mais profundidade.
Muitas mamães estão na mesma situação que eu. A boa notícia é que temos apoio: profissional, medicamentoso e familiar.
Não é simples. Não é fácil. Mas é preciso acreditar. É preciso ser maior que tudo isso.
Nessas horas, amigos e familiares fazem toda diferença.
No mais, é abstrair. Pensar positivo e seguir em frente.
Beijos e até a próxima